124/124 UMA PALAVRA AOS SOFREDORES

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Páginas recebidas em 30.10.1936

Concluindo a segunda edição do nosso volume, dedicadas às orfãzinhas, meu filho desejaria que eu dirigisse uma palavra aos sofredores.

Mas não posso dizer-lhes mais do que já lhes disse no conjunto de minhas páginas despretensiosas e humildes. Contei a todos os que sofrem, com palavras simples, as minhas impressões de Além-Túmulo, tentando dirigir-me, em particular, a todos os sofredores, para os quais o vento do infortúnio é mais frio.

Muitos espíritos passaram, despreocupadamente, os olhos pelas páginas em que procurei gravar as emoções de minh’alma, não obstante as dificuldades insuperáveis para me fazer compreendida. Outros lamentaram a ausência de característicos científicos em meus comunicados, ansiosos do rigorismo das críticas minuciosas.

Estas cartas, todavia, não foram grafadas para as teorias científicas que florescem no século, à beira da estrada do Espiritismo evangélico. Consagrando o meu respeito e a minha veneração aos estudos dos sábios terrenos, eu não saberia corresponder aos seus desejos de conhecimento superior, dentro da minha insipiência individual.

Escrevi-a pensando nas mães sofredoras, cujo coração dilacerado não tem outra luz, no caminho escuro da Terra, que as esperanças e súplicas postas no Céu; vejo-lhes, daqui, as amargas dificuldades e os acerbos desgostos e sinto-lhes, comovida, a tortura dos aflitos, clamando pela misericórdia infinita de Jesus. Grafei-as ponderando as expectativas ansiosas dos homens desolados que as dores cercam e humilham, nos carreiros aspérrimos do dever e das obrigações mais penosas.

Sim!… A falange onde me encontro para executar as mais santas determinações espirituais, sabe de muitas misérias ocultas e de muitas lágrimas desconhecidas… Nem sempre os grandes infortúnios se circunscrevem às casas públicas do sofrimento. Sob as sedas faustosas e sob o som de músicas festivas, buscamos cicatrizar as úlceras cancerosas e paralisar os soluços em muitos corações que se purificam na Terra.

Não desdenhemos as atividades preciosas dos espíritos insatisfeitos que alargam atualmente os horizontes científicos do século, com o concurso do Além-Túmulo. Mas consideramos a expansão evangélica e moralizadora do Espiritismo como seu objetivo primordial.

A Europa, desde os fins do século passado, não se encontra repleta de fenômenos supranormais, servida pelas constituições medianímicas mais poderosas? Grandes mestres não têm oferecido ao continente inteiro o fruto de seus exames e de pesquisas, no caminho largo das ciências terrestres?

Entretanto, há muitos anos sucessivos, a confusão ali se estabeleceu nas almas, envenenando as fontes culturais do Velho Mundo.

Nos terríveis enganos políticos da Igreja católica romana, a Europa inteira se prepara, aguardando inquieta, a guerra cruel dos extremismos.

Entre a ciência humana e a sabedoria espiritual sempre existiu considerável distância. A primeira é filha do labor inquieto e transitório dos homens. A segunda é filha das grandes e abençoadas revelações das almas.

Na primeira sobram as dúvidas amargosas e as hipóteses falíveis. Na segunda vibram as grandes e eternas esperanças do coração do iluminado ideal da vida superior.

Dentro das ciências terrestres prevaleceram, em todos os tempos, as descrenças inquietantes e angustiosas; os trabalhos dissolventes de crítica dos campos adversos sempre objetivaram a destruição de patrimônios sagrados do ser.

Ainda agora, muitos jornalistas e estudiosos eminentes, às vezes falando de Crookes e de Lombroso procuram desmerecê-los, acusando-os como possuídos de declínio de compreensão, no trato com os fenômenos espíritas. E, nesse movimento de acusações, perde-se um tempo precioso, a par de muitas energias que poderiam se empregar na construção do edifício
da felicidade humana.

Fenômenos? O homem nunca encontrará outro maior que a vida de Jesus, localizada na História. Mensagens elucidativas? Poderia haver alguma maior que a da palavra permanente do seu Evangelho?

É para vós, os espíritos sofredores da Terra, que o Espiritismo trouxe uma aleluia de esperanças e glorificações. Heróis obscuros e ignorados do mundo; alguém sabe dos vossos sacrifícios, de vossas renúncias e dedicações que o planeta terreno não pode conhecer!…

Chorai vossas lágrimas remissoras de olhos postos no Céu, onde se guardam todos os vossos prantos e onde são conhecidas todas as vossas preces e aspirações.

Aprendei nas experiências penosas da Terra a soletrar o abecedário do amor, da piedade e da resignação, porque se viveis a dolorosa angústia das almas infortunadas e incompreendidas no mundo, há no Céu quem vos estenda as suas mãos carinhosas e compassivas.

Trabalhai, sofrei e confiai na misericórdia divina, pois não foram pronunciadas para os espíritos satisfeitos e felizes aquelas divinas palavras:

“Bem aventurados os aflitos na Terra, pois que a eles pertencem as alegrias do Céu”.

Maria João de Deus

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Agradecemos todos que nos acompanharam nessa leitura!

AMAI-VOS E INSTRUI-VOS

123/124 AS CORRENTES MIGRATÓRIAS

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Os nossos Mestres nos falaram das grandes correntes migratórias que modificam as civilizações, asseverando que o mundo atual se encontra à beira desses movimentos inevitáveis. Compreendemos, então, que todos os progressos da civilização terrestre dependem da economia, sobre cuja base repousa todo o edifício da organização social.

Soubemos assim que, em tempos remotíssimos, quando o planeta se encontrava em véspera de inaugurar nova posição progressiva, ocorreu o deslocamento das raças arianas que invadiram os territórios europeus. O congestionamento de certos países, o problema da economia regulamentada, a necessidade de expansão que muitas nacionalidades experimentam nos tempos modernos constituem uma determinação desesperada dessas corrente migratórias, cuja passagem é assinalada por guerras destruidoras, ensaiando novas soluções para as magnas questões da vida coletiva.

Afirmam, portanto, os nossos guias que apenas começamos a presenciar os grandes acontecimentos que, fatalmente, terão de ocorrer nos anos vindouros. As raças amarelas e determinados núcleos da civilização ocidental requerem expansão e nova fonte econômica para a solução dos problemas que os assoberbam; e, nesses dolorosos movimentos, mas necessários, a humanidade se depura, aperfeiçoando-se cada vez mais para o seu glorioso futuro espiritual. Reconhecendo-se embora tudo isso, para as almas dotadas de pouca experiência, com respeito a esses enigmas dos povos, os quadros isolados, como nos é dado conhecer, são profundamente angustiosos.

Mas a dor, a dor soberana que aí na Terra dobra toda a cerviz e subjuga todas as frontes, essa está igualmente aqui conosco, na aquisição de ensinamentos, exercendo a sua função de remodelar e de aperfeiçoar toda a glória suprema da vida.

Todavia, Senhor, vós que sois a grandeza e a misericórdia suprema do Universo, estendei as vossas mãos magnânimas para a Terra, mansão de sombras e de provações, onde irmãos nossos se entregam ao mais proveitoso dos aprendizados.

Dá-lhes fortaleza de ânimo e resignação nos embates contra a adversidade dolorosa, alçando os seus olhos para os vossos impérios resplandecentes, onde compreendemos as luminosas afirmações da Vida Espiritual.

Protegei-me a todos, Senhor, integrando as suas consciências no caminho retilíneo da salvação e os seus entendimentos na compreensão profunda das vossas leis. Que a Terra conheça a nova era do amor e da fraternidade espiritual.

Maria João de Deus

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122/124 UM NOVO CICLO ESVOLUTIVO

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Interpelamos os Mestres que nos dirigem sobre os quadros dolorosos a que vimos assistindo, com infinita mágoa, em virtude das derradeiras lutas fratricidas que se vêm desenrolando na superfície do planeta. E os nossos venerandos mentores espirituais sempre nos elucidam, explicando que a Terra se acha em vias de conhecer um novo ciclo evolutivo.

Explicam-nos, então, que esses movimentos objetivam não só o cumprimento exato das provações individuais e coletivas dos homens e dos povos, como também representam um trabalho de drenagem sobre as multidões humanas, selecionando as almas então encarnadas nesse mundo.

Maria João de Deus

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121/124 A TAREFA DA SALVAÇÃO

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Temos aqui instrumentos semelhantes a barcos salvadores, onde alguns espíritos conseguem se transportar para o nosso meio, para se entregarem a tratamento e a repouso que lhes são necessários, porém, as condições psíquicas dessas almas são muito lamentáveis. Demasiado comovedores são os gritos maternos, as preces fervorosas e angustiadas que temos ouvido, filhas do gemer opresso de mãos infelizes. A todos buscamoso ferecer o concurso de nossa assistência, todavia é difícil lograrmos um
resultado imediato e efetivo.

Não obstante a incompreensão, com a qual somos geralmente recebidos, ainda conseguimos evitar muitos males e afastar muitos infortúnios, dentro das possibilidades de nossa influência indireta.

Maria João de Deus

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120/124 ESPÍRITOS ALUCINADOS

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Dolorosos são os espetáculos que vimos presenciando porque essas almas perturbadas e sofredoras estão constituindo uma turba imensa de alucinados e de loucos. Muitos dos nossos companheiros corajosamente atravessam o abismo (em certas ocasiões esses movimentos oferecem perigos para os espíritos inexperientes de minha esfera, perigos esses de natureza fluídica, condizentes portanto, com os elementos de nossa matéria e organização) mas são frustrados os seus esforços no sentido de consolar essas criaturas amotinadas.

Figurai alguém sob o império de um sofrimento indescritível; a dor lhe impressiona de tal maneira, desorganizando-lhe a faculdade sensorial, que semelhante criatura é incapaz de ouvir o consolo fraterno ou a amiga exortação.

É talvez devido a esse estado de extrema perturbação que as almas aflitas, em cujo socorro estamos ocupados, não nos ouvem, entregando-se às mais dolorosas imprecações. Súplicas, brados angustiosos, soluços, gemidos, repercutem junto de nós e temos procurado, no refúgio da prece a Deus, os recursos necessários para essas coletividades espirituais, egressa do planeta nestes últimos dias. São muito raras as individualidades que conseguem ouvir o nosso chamado ou aprender as nossas observações.

Maria João de Deus

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119/124 NO LIMIAR DOS GRANDES ACONTECIMENTOS

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No local onde nos encontramos, muito profundo e crescente é o nosso interesse pelos estudos, os quais vão sendo aperfeiçoados por nós, ao preço de iniciativas nem sempre facilmente conquistadas.

Como já tive ocasião de observar, as minhas atividades se desenvolvem em torno de um grande número de entidades que apenas se dedicam aos problemas de socorro espiritual a todas as almas que sofrem e se redimem na Terra, no cadinho das renúncias e dos grandes sacrifícios.

Ultimamente, estivemos reunidos em extraordinários movimentos, junto à ponte a que já me referi, e que atravessa a distância incomensurável que separa o vosso orbe da primeira esfera que lhe é concêntrica. São inúmeros os espíritos que se debatem do lado oposto àquele em que nos encontramos, esforçando-se para realizarem a difícil travessia.

Maria João de Deus

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117/124 A EVOLUÇÃO MARCIANA

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Assegurou-me, ainda, o desvelado mentor espiritual, que a humanidade de Marte evoluiu mais rapidamente que a da Terra e que desde os pródromos da formação dos seus núcleos sociais, nunca precisou destruir para viver, longe das concepções dos homens terrenos cuja vida não prossegue sem a morte e cujos estômagos estão sempre cheiros de vísceras e de virtualhas de outros seres da criação.

O dia ali é igual ao da Terra, pois conta 24 horas e quase 40 minutos, mas os anos constam de 668 dias, tornando as estações mais demoradas, sem transformações bruscas de ordem climática que tanto prejudicam a saúde humana.

Disse-me, ainda, o mestre desvelado, que os marcianos já descobriram grande parte dos segredos das forças ocultas da natureza. Conhecem os profundos enigmas da eletricidade, sabendo utilizá-la com maestria. Nas questões astronômicas, são eminentemente mais adiantados do que seus companheiros da Terra, compreendendo todos os fenômenos e a maior parte dos mistérios da natureza do vosso planeta. Vi lá formidáveis aparelhos fotoelétricos que registram, com precisão matemática, a quase totalidade das expressões fenomênicas dos mundos que estão mais próximos desse orbe maravilhoso. Em vez do satélite, que ilumina as vossas noites, observei que Marte é servido por dois. Duas luas que parecem gravitar uma em torno da outra, porém menores, muito menores que a vossa.

Maria João de Deus

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116/124 A PAISAGEM DE MARTE

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Vi-me à frente de um lago maravilhoso, junto de uma cidade, formada de edificações profundamente análoga à da Terra. Apenas a vegetação era ligeiramente avermelhada, mas as flores e os frutos particularizavam-se pela variedade de cores e de perfumes.

Percebi, perfeitamente, a existência de uma atmosfera parecida com a da Terra, mas o ar, na sua composição, afigurava-se muitíssimo mais leve. Assegurou-me, então o mestre, que me acompanhava, que a densidade em Marte é sobremaneira mais leve, tornando-se a atmosfera muito rarefeita.

Vi homens mais ou menos semelhantes aos nossos irmãos terrícolas, mas os seus organismos possuíam diferenças apreciáveis. Além dos braços, tinham ao longo das espáduas ligeiras, ligeiras protuberâncias à guiza de asas que lhes prodigalizavam interessantes faculdades volitivas. Percebi que a vida da humanidade marciana é mais aérea. Poderosas máquinas, muitíssimo curiosas na sua estrutura, cruzavam os ares, em todas as direções. Vi oceanos, apesar da água se me afigurar menos densa e esses mares muito pouco profundos. Há ali um sistema de canalizações, mas não por obras de engenharia dos seus habitantes, e sim por uma determinação natural da topografia do planeta que põe em comunicação contínua todos os mares.

Não vi montanhas, sendo notáveis as planícies imensas, onde os felizes habitantes desse orbe desempenham as suas atividades consuetudinárias. As águas são muito mais raras. As chuvas quase que se não verificam, mostrando-se o céu geralmente sem nuvens. Afirmou-me o protetor que grande parte das águas desse planeta desapareceram nas infiltrações do solo, combinando-se com elementos químicos das rochas, excluindo-se da circulação ordinária do orbe.

Maria João de Deus

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115/124 A VIRGEM VERTIGINOSA

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Mas eu vos prometera falar de minha excursão ao planeta que vos é vizinho e vou me desviando em considerações doutrinárias e filosóficas, esquecendo o escopo de minha visita.

É para a vossa ciência uma afirmativa audaciosa, dizer-vos que pude ver o planeta Marte, identificando-me com os seus elementos a fim de conhecer de mais perto as suas belezas ignoradas. A verdade, porém, tem igualmente as suas revelações pelos caminhos da fé. Nem tudo se mostra somente nas análises frias dos laboratórios e das suas retortas. As grandes realidades primeiramente falam ao coração. Na atualidade, à mingua de elementos mais positivos de ordem material, nós vos
falamos como se fôssemos vítimas de nossos surtos imaginativos, mas dia virá que os homens hão de verificar, com as positividades requeridas, a veracidade de nossas afirmativas.

Como das outras vezes, meus amigos, não pude fazer sozinha uma excursão dessa natureza. O guia de sempre conduzia os meus passos. E foi assim que bastou um pensamento forte de nossa vontade, concentrada nesse objetivo, para que efetuássemos essa viagem vertiginosa, cuja duração foi de poucos segundos, de acordo com a vossa contagem do tempo aí na Terra.

Maria João de Deus

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114/124 O PLANETA MARTE

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Meus amigos, é com permissão dos nossos Guias dos planos superiores que desejo prosseguir, nesta noite, as minhas narrativas de Além-Túmulo.

Não está em nós a presunção de resolver incógnitas científicas e nem derrogar os decretos do Altíssimo, que, do lado de cá, nos merece a mais sublime de todas as venerações. Escrevo esta impressões somente objetivando a consolação dos que sofrem, visando a amplitude das esperanças dos que nos compreendem, a fim de que aguardem, confiantes na bondade d Deus, o prêmio compensador da vida em outras paragens mais felizes, onde a alegria não se extingue, como na Terra, e a paz é uma vibração permanente do pensamento de todas as criaturas.

Aqui, tenho aprendido que há mundos de todas as espécies, diversificados em sua natureza como a essência dos sentimentos das almas. Mundo de dor, de ventura, de aprendizado, de luta, de regeneração.Todas essas distantes pátrias, que os vossos telescópios focalizam, dentro da noite imensa, não poderiam estar vazios e abandonados. Não se compreende uma cidade edificada, rica de monumentos e obras, sem habitantes e sem vida. Os planetas, que rolam no infinito, constituem a família universal, por excelência. Cada um deles comporta uma humanidade, irmã de todas as outras que vibram na imensidade.

É toda vaidade do homem terreno afirmar-se a única criatura pensante do Universo, mesmo porque a Terra é um dos planos mais obscuros e mais repletos de amargura para quantos já experimentaram algo das felicidades imorredouras, que a evolução do sentimento e do raciocínio pode facultar.

Para as almas acendradas no amor, a Terra é bem o recanto do exílio e das sombras.

Todavia, vós outros, os que estudais, tomados da disposição benéfica de conhecer a vida espiritual, em suas mais remotas e múltiplas modalidades, deveis arquivar no coração o tesouro divino da esperança. Se na atualidade as dores vos assediam, sabeis que a vida não se circunscreve no âmbito mesquinho do orbe terráqueo. Patrimônio da criação e divindade de todas as coisas, é ela a vibração luminosa que se estende pelo infinito, dentro de sua grandeza e do seu sublime mistério.

Maria João de Deus

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113/124 CONTINUAÇÃO DA TERRA

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É desse modo que tenho visto aqui muitas extravagâncias de costumes. Por exemplo, na primeira esfera, mais apegada à Terra e às suas ilusões, temos muitas organizações à maneira do planeta. São inúmeras as congregações de espíritos que se dedicam à salvaguarda de seus ideais religiosos sobre o orbe terráqueo. A Igreja romana, por exemplo, têm aí organizações, conventos, irmandades, que defendem os seus erros e, assim, de facção em facção, podereis compreender a imensidade de nossa luta, Nas colônias de antigos remanescentes da África vim conhecer costumes esquisitos, como bailados estranhos, ao som de músicas bizarras que me deram a impressão de fandangos, tão da preferência dos escravos no Brasil.

A luta estabelecida não é pequena. A nossa existência é a continuidade da vida material com todas as suas características.

Vem daí o nosso contínuo conselho para preparardes uma vida melhor, pela aquisição de virtudes e conhecimento. Assim como tenho visitado outros mundos e outros ambientes, cujas belezas constituem um sagrado estímulo para minha vontade de progredir e aprender, igualmente muita coisa lamentável tenho presenciado, optando sempre pela exortação fraterna, a fim
de que saibas aproveitar proficuamente o vosso tempo na face do orbe que atualmente habitais.

Desejaria dizer-vos algo quanto às manifestações de vida sobre a superfície de Marte, mas temos de contar convosco o tempo, se estamos ao vosso lado, e é assim que observo o adiantamento das horas. Se Deus permitir falarei na próxima semana de outros ensinamentos obtidos por mim nessa Terra distante.

Deus vos dê boa-noite e vos abençoe.

Maria João de Deus

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112/124 HEGEMONIA DE JESUS – A ESFERA CHEIA DE SOL

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Muitos dos componentes desses núcleos tão arraigadamente conservam o modo de pensar que possuíam no planeta terráqueo, que raros são os que não relutam em aceitar a hegemonia espiritual de Jesus Cristo, como orientador e guia do orbe que deixamos e ao qual ainda estamos ligados por fortes elos de natureza afetiva, segundo o grau de progresso que já alcançamos.

É comum notarmos, então, pregadores do evangelho do Mestre por toda a parte, esclarecendo as consciências e iluminando os raciocínios.

Inúmeras colônias desconhecem ainda a mensagem da Boa Nova, apesar de terem as suas leis de caridade, de fraternidade e de amor, como a Terra as possuía antes do cumprimento das profecias que anunciavam o aparecimento do Senhor.

Mas, há sobre todas essas esferas, falando de oitiva, segundo as explicações que tenho recebido de grandes mestres da espiritualidade, uma esfera cheia de sol, de claridade bendita e de belezas inenarráveis, onde promana a fonte que poderemos chamar inspiracional.

Do seu centro, dimanam todos os elevados conhecimentos que felicitam as leis humanas e os seus raios são refletidos pelas mentes que estão em correspondência direta com a sua grandeza, em concepções de bondade, de tolerância, de sabedoria e de amor.

Assim está explicado porque, muito antes de Cristo, já existiam na Índia grandes pensadores, essencialmente evangélicos nas suas doutrinas, pois a Grécia, o Egito e o Oriente já possuíam as teorias de solidariedade e de fraternidade humana. Dessa esfera grandiosa, parte o equilíbrio para todas as correntes espirituais entre a Terra e as esferas que lhe são concêntricas.

Maria João de Deus

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111/124 AS AFINIDADES RACIAIS

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O amor, a esperança, a tristeza, a fé, a confiança, o caráter, a sinceridade, e demais atributos da personalidade humana, aqui estão vivos, palpitantes. Tenho observado porém, que apesar de livre do perigo das lutas fratricidas, entre todos existe grande movimento de afinidade racial, parecendo-me que a questão das raças aí na Terra está subordinada a um forte ascendente de natureza espiritual.

Os saxões, os latinos, os árabes, os orientais, os africanos, formam aqui grandes falanges, à parte, e em locais diferentes uns dos outros. Nos núcleos de suas atividades, conservam os costumes que os caracterizavam e é profundamente interessante observarmos de perto como essas imensas colônias espirituais diferem uma das outras, apesar de se encontrarem ligadas pelos mais santos laços da fraternidade e do amor.

Maria João de Deus

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110/124 A VIDA EM TODA A PARTE

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Nossa vida aqui é o prolongamento da vida humana. Não existem vazios no Universo. Todas as zonas interplanetárias estão repletas de vida em suas manifestações multiformes. Uma gota d’água encerra um universo infinitesimal onde uma grande humanidade microscópica vive, trabalha e palpita.

Se Deus se conserva inatingível ao nosso entendimento atual, porquanto não podemos concebê-lo segundo a nossa individualidade, único índice que possuímos para apreciar os outros, também a Vida como manifestação de sua divindade ainda não é compreendida por nós, em toda a intensidade de suas grandezas multiformes.

Aqui, desenrolam-se as nossas atividades, a maneira dos homens, e nessa segunda zona onde me encontro e aguardo oportunidade feliz para reencarnar-me na Terra, apenas o que observo é que os homens são mais aperfeiçoados em seu modo de sentir, considerando-se totalmente eliminado a hipótese de guerras e dizimações de quaisquer obras. Há mais impulsos de fraternidade nestes núcleos de seres, onde se agitam os sentimentos humanos em sua generalidade.

Maria João de Deus

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109/124 NAS ESFERAS VIZINHAS DA TERRA

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Não são poucos os que na morte presumem o encontro inesperado de uma fonte inesgotável de onisciência e julgam, na sua inércia, intelectual, que os espíritos são criaturas sobrenaturais, cuja zona lúcida já atingiu o zênite do conhecimento.

Tais julgamentos são absolutamente falsos não só na sua base como na sua estrutura, porquanto supõem que o espírito encarnado representa outra individualidade, conferindo à carne determinados poderes, que ela está muito longe de possuir na sua situação de elemento passivo e maleável.

A matéria, com o seu complexo atômico. Nada mais significa que um revestimento temporário, condição necessária à tangibilidade do ser. Todavia, somente quando as lesões orgânicas, dentro das provações individuais, geram obstáculos ao surto evolutivo da personalidade, tem ela uma zona de influência natural sobre o desenvolvimento moral dos indivíduos.

Por exemplo, os loucos (não obsessos), os cegos de nascimento, os que surgem do berço com graves deslizes de ordem corporal, semelhantes espíritos têm a empecer-lhes o círculo do progresso na atuação do organismo. Mas, na generalidade dos homens, a matéria nada mais é que a veste temporária, que o fenômeno da morte nos faz trocar por outra, diferente em suas expressões estruturais, porém, sempre à mesma base de ordem material, de acordo com as necessidades do novo plano onde teremos de desenvolver as nossas atividades. É, portanto, natural que o nosso ambiente em grande parte ainda seja caracterizado pelas idéias e concepções da Terra.

São inúmeros os que examinam as nossas descrições do espaço, imbuídos de idéias preconcebidas, incapazes de nos criticar com isenção de ânimo.

Contudo, isso não altera a nossa maneira especialíssima de viver aqui. As leis naturais são sempre as mesmas. A ordem, na sua expressão divina, não pode ser modificada. Se os núcleos humanos entrassem no torvelinho de uma conflagração universal e se todas as criaturas perdessem a vida em seus excessos, o sol não deixaria de fazer o seu percurso na imensidade; a lua
prosseguiria com as suas mudanças, as correntes polares seriam as mesmas, a natureza continuaria criando sob o olhar misericordioso de Deus e as estrelas entre os seus reflexos, sorririam, de longe, para a Terra silenciosa e desabitada. É inútil, portanto, revoltar-se ou sentir incompreensões em face das nossas exposições da vida real. A crítica não destrói as realidades, por mais judiciosas que nos apareça.

Maria João de Deus

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108/124 PLANOS APERFEIÇOADOS DE LUZ

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Vi que os seres pensantes desse maravilhoso orbe, todavia, são muito superiores aos homens e cuidam somente de trabalhos elevados e de ordem divina, cuja vitalidade essencial não posso transladar à linguagem terrena ainda tão imperfeita para reproduzir aquilo que constitui algo de inacessível ao entendimento dos homens atuais.

Ali estudamos, eu e os amigos que me acompanhavam, sob os esclarecimentos do nosso mentor, muitas novidades atinentes aos estudos da luz e das suas vibrações no seio do éter, base primordial de todas as construções e organizações da matéria, em todos os mundos.

Devo dizer-te, contudo, que os felizes habitantes desse mundo, alumiado pelos três sóis e onde não se conhece a palavras noite, sombra ou escuridão, puderam nos ver e entender, mas nós não conseguimos penetrar nos seus problemas, nem na elevação e na superioridade de seus labores, devido ao nosso estado moral.

Apenas o nosso Mestre podia conversar com eles, mas pelo que pude observar, devo acrescentar que são criaturas altamente dotadas de sensibilidade e aguçada inteligência.

Uma grande bondade se irradia dos seus pensamentos, porque nos sentimos maravilhosamente bem dispostos enquanto estivemos em contato direto com seu ambiente.

As suas moradias são caracterizadas por uma arquitetura eminentemente interessante. Quase todas as casas possuem torres como se fossem agulhas, tão elevadas que são e ali, a luz tem aplicações que eu própria não consegui compreender, tal a transcendentalidade dos seus trabalhos, isto é, das atividades, onde são empregadas as suas vibrações.

Fiquei sabendo, porém, que a luz dos astros, em sua substância intrínseca, contém potencialidades profundas de natureza elétrica. Mesmo na Terra, futuramente os homens chegarão a compreender essas coisas quando souberem dissecar e entender o espectro solar.

Mas já é tarde.

Tenho outros afazeres e voltarei breve. Deus te abençõe e conceda a cada um a sua santa paz.

Maria João de Deus

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107/124 TRES SÓIS DE CORES DIVERSAS

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Penetramos numa atmosfera rosada, plena de luz, mas de claridade suave, que se irradiava espalhando sons dentro da mais harmoniosa das cadências que os meus ouvidos escutaram nas condições de minha nova vida.

Sobre as nossas frontes, contemplávamos, então, um sol magnífico, cor-de-rosa quase enrubescido, emprestando ao ambiente, em que nos movíamos, as mais estranhas cambiantes. Todavia, não ficou aí a novidade. A seguir, percebemos que uma estrela esverdeada brilhava no infinito dos céus, misturando as suas claridades esmeraldinas com as tonalidades róseas, que se estampavam em todas as coisas e, de repente, enquanto uma dessas estrelas se encontravam no zênite e a outra prestes a desaparecer nos horizontes desse planeta maravilhoso, outro sol surgia, amarelo, cor de laranja amadurecida, tonalizando como um elemento novo as paisagens.

As ousadas concepções dos pintores terrenos ficariam aquém das sublimes realidades por nós observadas, referentes aos efeitos da luz, nesse sistema de encantamento.

O elemento sólido do orbe que pisávamos, num dos mundos privilegiados que giram em torno desses três sóis de cores diversas, era formado de substâncias que não é possível descrever. Mas, lá, observei, a existência de oceanos e florestas, jardins, minerais, animais e muitas outras coisas que equivalem aos objetos e manifestações da vida sobre a Terra.

Maria João de Deus

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106/124 UMA EXPÉDIÇÃO DE ESTUDOS

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Ainda há pouco tempo, eu mais dois companheiros, fomos escolhidos para uma expedição de estudos, atinentes à luz e, sem que eu esperasse, elevado mentor nos conduziu bondosamente a um plano cuja beleza jamais suspeitei existir.

Quando nos afastamos da esfera que nos serve de habitação nunca nos sentimos, de forma imediata, muito à nossa vontade. É o mesmo que acontece ao homem terreno quando arrebatado inopinadamente do seu meio.

Há, sempre, nos que se mudam, no tocante às condições ambientais, a sensação de estranheza. Felizmente, semelhantes emoções pouco nos dominam em razão de termos ampliado as nossas faculdades de ação, educando a vontade e disciplinando os sentimentos.

Como dizia, porém, atravessamos abismos de luz e hiatos dos espaços, cheios de frio e de treva, não obstante o nosso mentor e guia asseverar que o espaço nunca está vazio, havendo em todos os seus recantos, manifestações de vida, que nem sempre nos é dado conhecer.

Em certa altitude, contemplamos o orbe terreno que não era mais que uma estrela de imensidade, brilhando com luz avermelhada, refletindo a claridade do sol que por sua vez se nos afigurava uma lâmpada maior que as de uso comum, até que o centro radioso do nosso sistema e seus companheiros que rodopiam na imensidade, em condições de planetas opacos, figuravam pirilampos perdidos ao longe, no silêncio aparente do infinito. Mas, o espetáculo ao nosso lado era sedutor e deslumbrante.

Maria João de Deus

Livro Cartas de uma Morta ­ Psicografia Chico Xavier

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105/124 NAS REGIÕES DA LUZ

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Desejo prosseguir, nesta noite, meu filho, sobre as dissertações a respeito dos panoramas, em cujo seio se desenvolvem as nossas atividades espirituais.

Assim como as almas encarceradas na Terra têm, às vezes, quando se tornam dignas de semelhantes conhecimentos, visões perfeitas e transcendentes em relação à vida real dos planos da espiritualidade pura, assim também alguns de nós, quando demonstramos resignação aos ditames do Alto e boa vontade na execução da tarefa que nos é designada, conseguimos a companhia de amigos, cheios de sabedoria, que nos arrebatam temporariamente da esfera a que pertencemos, conduzindo-nos à visão grandiosa de outras manifestações mais elevadas da vida superior, no seio dos espaços infinitos. Foi assim que consegui a viagem a Saturno, já descrita.

Apenas, dentro da insipiência de nossa evolução, ignorantes da nossa condição de entidades que a existência da Terra perfeitamente caracteriza, contemplamos esses mundos grandiosos, cenários sublimes de exteriorizações aperfeiçoadas da vida, mas sem compreender os fenômenos do seu desdobramento nesses meios, para nós totalmente desconhecidos e ignorado.

Maria João de Deus

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CARTA DE UM MORTO

(Irmão X – psic. Chico Xavier)

Pede-me você notícias do cemitério nas comemorações de Finados. E como tenho em mãos a carta de um amigo, hoje na Espiritualidade, endereçada a outro amigo que ainda se encontra na Terra, acerca do assunto, dou-lhe a conhecer, com permissão dele, a missiva que transcrevo, sem qualquer referência a nomes, para deixar-lhe a beleza livre das notas pessoais.

Eis o texto em sua feição pura e simples :

“Meu caro, você não pode imaginar o que seja entregar à terra a carcaça hirta, no dia dois de Novembro.

Verdadeira tragédia para o morto inexperiente.

Lembrar-se-á você de que o enterro de meu velho corpo, corroído pela doença, realizou-se ao crepúsculo, quando a necrópole enfeitada parecia uma casa em festa.

Achava-me tristemente instalado no coche fúnebre, montando guarda aos meus restos, refletindo na miserabilidade da vida humana…

Contemplando de longe minha mulher e meus filhos, que choravam discretamente num largo automóvel de aluguei, meditava naquele antigo apontamento de Salomão – «vaidade das vaidades, tudo é vaidade» –, quando, à entrada do cemitério, fui desalojado de improviso.

Na multidão irrequieta dos vivos na carne, vinha a massa enorme dos vivos de outra natureza. Eram desencarnados às centenas, que me apalpavam curiosos, entre o sarcasmo e a comiseração.

Alguns me dirigiam indagações indiscretas, enquanto outros me deploravam a sorte.

Com muita dificuldade, segui o ataúde que me transportava o esqueleto imóvel e, em vão, tentei conchegar-me à esposa em lágrimas.

Mal pude ouvir a prece que alguns amigos me consagravam, porque, de repente, a onda tumultuária me arrebatou ao circulo mais íntimo.

Debalde procurei regressar à quadra humilde em que me situaram a sombra do que eu fora no mundo… Os visitantes terrestres daquela mansão, pertencente aos supostos finados, traziam consigo imensa turba de almas sofredoras e revoltadas, perfeitamente jungidas a eles mesmos.

Muitos desses Espíritos, agrilhoados aos nossos companheiros humanos, gritavam ao pé das tumbas, contando os crimes ocultos que os haviam arremessado à vala escura da morte, outros traziam nas mãos documentos acusadores, clamando contra a insânia de parentes ou contra a venalidade de tribunais que lhes haviam alterado as disposições e desejos.

Pais bradavam contra os filhos. Filhos protestavam contra os pais.

Muitas almas, principalmente aquelas cujos despojos se localizam nos túmulos de alto preço, penetravam a intimidade do sepulcro e, de lá, desferiam gemidos e soluços aterradores, buscando inutilmente levantar os próprios ossos, no intuito de proclama aos entes queridos verdades que o tímpano humano detesta ouvir.

Muita gente desencarnada falava acerca de títulos e depósitos financeiros perdidos nos bancos, de terras desaproveitadas, de casas esquecidas, de objetos de valor e obras de arte que lhes haviam escapado às mãos, agora vazias e sequiosas de posse material.

Mulheres desgrenhadas clamavam vingança contra homens cruéis, e homens carrancudos e inquietos vociferavam contra mulheres insensatas e delinquentes.

Talvez porque ainda trouxesse comigo o cheiro do corpo físico, muitos me tinham por vivo ainda na Terra, capaz de auxiliá-los na solução dos problemas que lhes escaldavam a mente, e despejavam sobre mim alegações e queixas, libelos e testemunhos.

Observei que os médicos, os padres e os juízes são as pessoas mais discutidas e criticadas aqui, em razão dos votos e promessas, socorros e testamentos, nos quais nem sempre corresponderam à expectativa dos trespassados.

Em muitas ocasiões, ouvi de amigos espíritas a afirmação de que há sempre muitos mortos obsidiando os vivos, mas, registrando biografias e narrações, escutando choro e praga, tanto quanto vendo o retrato real de muitos, creio hoje que há mais vivos flagelando os mortos, algemando-os aos desvarios e paixões da carne, pelo menosprezo com que lhes tratam a memória e pela hipocrisia com que lhes visitam as sepulturas.

Tamanhos foram meus obstáculos, que não mais consegui rever os familiares naquelas horas solenes para a minha incerteza de recém-vindo, e, somente quando os homens e as mulheres, quase todos protocolares e indiferentes, se retiraram, é que as almas terrivelmente atormentadas e infelizes esvaziaram o recinto, deixando na retaguarda tão somente nós outros, os libertos em dificuldade pacífica, e fazendo-me perceber que o tumulto no lar dos mortos era uma simples conseqüência da perturbação reinante no lar dos vivos.

Apaziguado o ambiente, o cemitério pareceu-me um ninho claro e acolhedor, em que me não faltaram braços amigos, respondendo-me às súplicas, e a cidade, em torno, figurou-se-me, então, vasta necrópole, povoada de mausoléus e de cruzes, nos quais os espíritos encarnados e desencarnados vivem o angustioso drama da morte moral, em pavorosos compromissos da sombra.

Como vê, enquanto a Humanidade não se habilitar para o respeito à vida eterna, é muito desagradável embarcar da Terra para o Além, no dia dedicado por ela ao culto dos mortos que lhe são simpáticos e antipáticos.

Peça a Jesus, desse modo, para que você não venha para cá, num dia dois de Novembro. Qualquer outra data pode ser útil e valiosa, desde que se desagarre daí, naturalmente, sem qualquer insulto à Lei. Rogue também ao Senhor que, se possível, possa você viajar ao nosso encontro, num dia nublado e chuvoso, porque, em se tratando de sua paz, quanto mais reduzido o séquito no enterro será melhor”.

E porque o documento não relaciona outros informes, por minha vez termino também aqui, sem qualquer comentário.

Do livro “Cartas e Crônicas”

(Espírito Irmão X – Psicografia Francisco C. Xavier)

104/124 NO AMBIENTE ESPIRITUAL

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Ainda aí observarás que se existem os abismos tenebrosos como as regiões infernais de certos planos na erraticidade, ou como os purgatórios da Terra, há também o recurso da bondade divina, que constantemente concede a cada qual um anjo tutelar, um estímulo sagrado em favor de seu aperfeiçoamento e redenção.

Há entidades, aqui, que só cuidam da confecção dos trajes de seus companheiros, há música e instrumentos mais perfeitos e mais adaptáveis à harmonia que os conhecidos na Terra. Temos festas e assembléias seletas, meios de comunicação, visões à distância, através de processos que os homens estão ainda muito longe de entender. Todos os nossos trabalhos e atividades são regulados por leis de vibrações daí desconhecidas. A nossa matéria é mais delicada, o mundo vegetal muito mais soberbo e mais rico, minerais também os há, mais complexos e mais formosos nas suas estranha colorações.

Mas já é tarde e precisamos nos separar. Pretendo revelar ainda muita coisa de nossas ocupações e do nosso modo de vida, tendo obtido a permissão superior para isso. Por hoje é só. Fiquem todos na paz de Jesus, nosso Divino Salvador.

Maria João de Deus

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103/124 A ESCADA DE LUZ

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Da esfera em que me encontro percebo perfeitamente que existe uma escada de luz atravessando os abismos ligando as esferas uma às outras. A região imediatamente vizinha da Terra abriga muitos sofredores e muitos desesperados. Aí, freqüentemente, descemos para buscar irmãos nossos que suplicam e choram, implorando o socorro e o auxílio de Deus.

Nessa região há organizações perfeitas e inúmeras de muitos espíritos do mal, que, reunindo-se uns aos outros, formam congregações nefastas e terríveis. Nosso combate é contínuo para por os encarnados a salvo de suas traições e sevícias. Temos igualmente horas de repouso, onde formamos projetos santificados e belos, acerca dos nossos bem-amados que aí estão para nós como mortos, sepultados nos túmulos da carne. Muitas almas amantes, que poderiam ter ascendido a planos mais superiores e formosos, aqui prosseguem ajudando aos que pelejam, estacionando voluntariamente nessas esferas inferiores, nas quais me encontro, para esperarem um noivo, um pai, um irmão, uma mãe, muitos queridos do coração.

Maria João de Deus

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